
A Cultura encontra sua salvação exclusivamente nas mãos do Direito.
A intersecção entre o Direito e a cultura é complexa e, muitas vezes, desafiadora. Embora sejam interdependentes, esses dois campos do conhecimento humano também podem se excluir mutuamente se o diálogo não for inteligente. Um exemplo que ilustra essa situação é o Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”, localizado em Tatuí, no estado de São Paulo. Em seu passado glorioso, essa escola representava um importante centro de ensino musical no Brasil. No entanto, sob a gestão da Organização Social Sustenidos e com o apoio da secretária Marília Marton, a atual situação do Conservatório é lamentável, resultando no fim do ensino musical de excelência.
A Sustenidos assumiu a gestão do Conservatório durante o governo estadual anterior e, desde então, vem desmantelando o projeto pedagógico da instituição. A organização demitiu músicos e encerrou as atividades da Orquestra Sinfônica do Conservatório de Tatuí, do Coro Sinfônico do Conservatório, do grupo Samjazz e de outros conjuntos musicais, totalizando cinquenta e três grupos. Esses conjuntos eram peças fundamentais para o método pedagógico do Conservatório, que consistia em incluir os alunos em conjuntos profissionais, compostos por 70% de professores músicos profissionais e 30% de alunos em estágio final de aprendizado de seus instrumentos. A Orquestra Sinfônica, por exemplo, contava com 80 músicos e um renomado maestro, Edson Beltrami, da equipe do maestro João Carlos Martins.
No entanto, a gestão atual decidiu não abrir mais matrículas para o curso de Iniciação Musical, que tinha como objetivo descobrir talentos e preparar as crianças para o ensino musical avançado. Além disso, o Conservatório agora só aceita alunos acima de oito anos de idade, já direcionados para a escolha de um instrumento musical. Essa abordagem compromete seriamente a formação de músicos profissionais de alta performance no Conservatório de Tatuí no futuro próximo.
É lamentável ter que expor publicamente essa situação. Uma escola de música com setenta anos de história, financiada com recursos públicos, não deve ser gerida por pessoas que desconhecem seu funcionamento e aplicam métodos prejudiciais ao seu desenvolvimento. O Conservatório de Tatuí é reconhecido como a melhor escola de música da América Latina, e não podemos permitir que seja destruído por uma administração amadora.
É importante ressaltar que o ensino musical do Conservatório é regido por um decreto estadual de 1971, assinado pelo governador Abreu Sodré, que deve ser respeitado. Desobedecer a esse diploma legal e colocar em risco um projeto cultural de tamanha importância é irresponsável.
Como residentes desta cidade, que está a apenas 120 quilômetros de São Paulo, considerada a maior cidade do Brasil, não podemos assistir ao triste fim desse projeto musical. Devemos protestar veementemente contra a incompetência e a falta de cuidado na administração do Conservatório, que já foi reconhecido como uma referência na formação de músicos profissionais.
(Fonte: Artigo originalmente publicado no site Conjur)