No último domingo (31/3), ocorreu em São Paulo um evento para relembrar os 60 anos do golpe que instaurou a ditadura civil-militar no Brasil. Denominada Caminhada do Silêncio pelas Vítimas de Violência do Estado, a manifestação teve início na antiga sede do DOI-Codi, localizado na rua Tutoia, na Vila Mariana.

O ato teve como objetivo lembrar a malfadada ditadura militar e destacar a importância da memória. A antiga sede do DOI-Codi é considerada um dos principais centros de repressão da ditadura, onde inúmeras pessoas foram torturadas e mortas pelas Forças Armadas, em colaboração com a sociedade civil de São Paulo.

Adriano Diogo, ex-deputado estadual e presidente da Comissão da Verdade da Assembleia Legislativa de São Paulo, foi uma das vítimas que ficaram presas no local por 90 dias durante o regime militar. Em entrevista à Agência Brasil, ele relembrou as condições precárias em que vivia na cela solitária do prédio e afirmou que o local é uma “casa de morte”.

Maria Amélia de Almeida Teles, conhecida como Amelinha, também foi uma das vítimas do DOI-Codi. Ela foi presa, torturada e estuprada no local entre 1972 e 1973. Ela relembra que sua família também foi sequestrada e levada para o DOI-Codi na época, incluindo sua filha de 5 anos e seu filho de 4 anos.

Na quarta edição da caminhada, os manifestantes reforçaram a importância da memória e destacaram que as populações periféricas ainda sofrem com a violência policial nos dias atuais. Henrique Olita, membro do Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores (PT), ressaltou que, apesar da Constituição de 1988, a estrutura de repressão no Brasil não mudou. Ele criticou a atuação da Polícia Militar e citou as recentes operações policiais no litoral de São Paulo, que resultaram na morte de mais de 50 pessoas.

O evento contou com a presença de personalidades como o ex-deputado José Genoino, o deputado estadual Eduardo Suplicy e a deputada federal Luiza Erundina. Erundina enfatizou a importância de relembrar os 60 anos do golpe para que a população não esqueça o que os brasileiros passaram durante a ditadura. Ela também ressaltou que o Brasil ainda não reparou nem fez justiça sobre o que aconteceu nesse período.

A caminhada teve como destino o Monumento em Homenagem aos Mortos e Desaparecidos Políticos, localizado no Parque Ibirapuera.

O DOI-Codi foi uma agência de repressão política subordinada ao Exército, onde muitos opositores da ditadura foram encarcerados, torturados e mortos. Estima-se que mais de 7.000 pessoas tenham passado pelo local, a maioria sendo submetida à tortura. Pelo menos 50 presos políticos morreram no local.

Atualmente, o prédio abriga o 36° Distrito Policial da Polícia Civil. Uma pesquisa arqueológica está sendo realizada no local para aprofundar o conhecimento sobre o prédio e identificar as pessoas que passaram por lá. Também há uma proposta de transformar o espaço em um Memorial da Luta pela Justiça, visando preservar a memória e os direitos humanos.

A caminhada foi organizada pelo Movimento Vozes do Silêncio, representado pelo Instituto Vladimir Herzog, e pelo Núcleo de Preservação da Memória Política, com o apoio de diversas instituições.