
Registros policiais da década de 1960 evidenciam a proibição do culto ao candomblé na Bahia.
Recentemente, foram descobertos em Salvador dois documentos que revelam a repressão que as religiões de matriz africana enfrentavam por parte do Poder Público. Emitidos na década de 1960, esses documentos, intitulados “Permissão Grátis”, autorizavam cerimônias de “caráter afro-brasileiro” no terreiro de candomblé do Gantois, porém com diversas restrições.
Essas restrições incluíam proibições como o consumo de bebidas alcoólicas, a presença de menores e o uso de atabaques após determinado horário. Além disso, os documentos eram encerrados com a frase “Fiscalização a cargo do subdelegado local”, deixando claro que tais restrições deveriam ser obedecidas sob pena de punição.
Essas permissões foram descobertas pela estudante Luiza Lyra de Carvalho Lima, de 21 anos, durante seu trabalho como monitora do Memorial de Mãe Menininha do Gantois. O achado foi comunicado à Mãe Carmen, filha mais nova de Mãe Menininha e atual ialorixá do Gantois.
Os documentos descobertos já foram catalogados e agora fazem parte do acervo do memorial, que possui mais de 500 itens relacionados à religiosidade de matriz africana na Bahia. Esse espaço tem um valor histórico e cultural significativo, mostrando a importância da resistência e combate ao racismo estrutural que nega o direito à equidade.
Essa descoberta é importante não apenas como um resgate histórico, mas também como uma forma de valorizar as tradições do povo negro e evidenciar a luta das lideranças religiosas para proteger suas comunidades. O memorial cumpre assim uma função socioeducativa e político-cultural, destacando a importância da preservação e do reconhecimento das práticas religiosas de matriz africana.
Fonte: Conjur